A música Frontline, da banda estadunidense Pillar, é perfeita para ilustrar o que trago aqui – e geógrafos e historiadores irão concordar comigo.

Repare nos versos abaixo:

“Everybody, with your fists raised high
Let me hear your battle cry tonight
Stand beside, or step aside
We’re on the frontline

Destaquei as palavras battle e frontline, pois é o que mais remete ao título deste artigo. A palavra battle, em português, significa “batalha” ou “guerra” que, por sua vez, lembra as guerras mundiais que é um assunto muito estudado em História.

Da mesma forma, frontline, em português, “linha de frente”, lembra os sistemas frontais que a Geografia muito se dedica a estudar.

Agora, você deve estar se perguntando “O que esse colunista que faz analogia com tudo quer dizer com isso?” A resposta é mais simples do que você imagina.

Uma frente é, basicamente, o encontro de duas massas de ar diferentes e ela recebe esse nome em comparação com uma frente de batalha (ou linha de frente), porém, ao invés de exércitos, os adversários são volumes de ar, capazes de provocar uma mudança no tempo por onde o sistema frontal passa.

E aí, se interessou pelo tema? Vem aprofundar seu conhecimento sobre sistemas frontais comigo!

O que é um sistema frontal?

Define-se como sistema frontal uma superfície que separa duas massas de ar de características diferentes, principalmente em temperatura e umidade.

Também é tratado por uma linha de descontinuidade entre duas massas de ar distintas. Isso porque, no seu movimento, as massas de ar de diferentes características de temperatura, pressão e umidade, encontram-se dando origem ao que denominamos sistema frontal ou, como nomearam alguns meteorologistas e climatologistas, frente.

Observação: Um sistema frontal clássico é composto por uma frente fria, uma frente quente e um centro de baixa pressão em superfície, chamado ciclone (o centro de alta pressão é chamado anticiclone). Veja mais sobre a circulação geral da atmosfera clicando no link.

Num anticiclone o movimento do ar é descendente, expandindo-se à superfície, enquanto num ciclone (ou depressão) o movimento é ascendente, concentrando-se à superfície (Copyright © 2021, TudoGeo – Por Vitor Colleto. Todos os direitos reservados)

A origem do termo frente

Entendido como uma superfície de descontinuidade produzida pelo encontro de duas massas de ar de características distintas, o conceito de frente (do inglês, front) surgiu depois da Primeira Guerra Mundial e foi introduzido por Vilhelm Bjerknes, que fez uma analogia entre as diferentes massas de ar e exércitos adversários que se confrontavam em um campo de batalha.

Ele definiu como frente a zona de transição entre duas massas de ar com características físicas distintas e fortes gradientes de temperatura e umidade.

Bjerknes, ao lado de Bergeron e Solberg, fazia parte da escola norueguesa de Climatologia a qual, no contexto da Primeira Guerra, elaborou a “Teoria da Frente Polar”, em Bergen (Noruega).

Cabe lembrar que a escola norueguesa deu origem à abordagem das frentes na dinâmica da atmosfera tomando como base as condições atmosféricas das médias e altas latitudes do hemisfério Norte.

No entanto, em geral, as superfícies de descontinuidades frontais são identificadas pelo mínimo relativo de pressão, máximo de vorticidade ciclônica ao longo da frente, fortes gradientes horizontais de temperatura, umidade e movimento vertical, forte cisalhamento do vento, rápida mudança de cobertura de nuvens e precipitação.

Em outras palavras, são perturbações atmosféricas que “perturbam” a estabilidade do tempo, gerando condições meteorológicas instáveis.

Na América do Sul, por exemplo, as frentes correspondem a um dos sistemas sinóticos mais importantes. Isso porque os sistemas frontais são ativos durante o ano todo nesse continente e podem penetrar até latitudes tropicais, sendo partes fundamentais dos seus regimes de precipitação e temperatura.

Carta sinótica de superfície com previsão de tempo mostrando sistemas frontais sobre a América do Sul – Fonte: CPTEC/INPE

No Brasil, destacam-se a atuação das frentes frias durante todo o ano, e afetam mais significativamente as regiões Sul e Sudeste sendo responsáveis pelas chuvas e frio, principalmente no sul do país que, inclusive, está situado numa região bastante frontogenética a nível global.

Entretanto, a penetração de sistemas frontais não se restringe apenas às porções mais meridionais do Brasil. Seus remanescentes têm um papel importante também na precipitação no sul da região Nordeste, além de terem grande importância nas chuvas de inverno no norte do país.

Os tipos de frentes

Como já dito, as frentes – de maneira análoga aos limites entre forças opostas nas guerras mundiais – são definidas como uma zona de descontinuidade formada pelo encontro de duas massas de ar de características diferentes. Ela funciona como uma área de transição estreita e inclinada, onde os elementos climáticos (temperatura, umidade, pressão, ventos etc) possuem variação abrupta.

Ao processo de origem e/ou intensificação das frentes, denomina-se frontogênese; enquanto o de dissipação é conhecido como frontólise.

Por serem correntes perturbadas, a passagem dos sistemas frontais sobre uma determinada região é acompanhada de instabilidade atmosférica, alternância dos tipos de tempo e ocorrência de precipitações. Marcam o dinamismo da atmosfera e caracterizam a sucessão dos tipos de tempo.

O deslocamento das frentes nos hemisférios Norte e Sul, assim como a direção dos ventos, é explicado pelo efeito (ou força) de Coriólis, que existe devido à rotação da Terra e é sempre perpendicular à direção do movimento, induzindo um desvio para a direita no hemisfério Norte e para a esquerda no hemisfério Sul.

De acordo com as características, posições e movimentos relativos das massas de ar que compõem determinada frente, podemos classificar os sistemas frontais em diferentes tipos. São eles:

  • Frente Fria: ocorre quando o ar frio, mais denso e pesado, empurra o ar quente para cima e para frente, fazendo-o se retirar da área. Forma nuvens com grande desenvolvimento vertical e consequentemente gera precipitação adiante da frente. As frentes frias podem se deslocar rapidamente ou lentamente, sendo as que se deslocam mais rápido mais inclinadas;
  • Frente Quente: ocorre quando o ar quente consegue empurrar o ar frio de uma determinada localidade. Normalmente a precipitação é contínua e considerada de leve a moderada, no caso do ar ser estável, mas no caso de ar instável, as chuvas tornam-se intensas, com trovoadas e aguaceiros;
  • Frente Oclusa: ocorre quando o setor frio de uma frente, que normalmente move-se mais rápido, alcança o setor quente, e o ar quente é forçado a subir, afastando-se do solo (oclusão). Ou seja, a frente fria se sobrepõe à frente quente; e
  • Frente Estacionária: ocorre quando não há nenhum ou pouco avanço das massas de ar. Não ocorre movimento do ar nem em direção à massa quente nem à massa fria, mas paralelo à linha da frente. A precipitação pode ser constante na área onde está estacionada.

Observe a imagem que ilustra os tipos de frentes.

Os tipos de frentes (Copyright © 2021, TudoGeo – Por Vitor Colleto. Todos os direitos reservados)

Referências:

MENDONÇA, F.; DANNI-OLIVEIRA, I. M. Climatologia: noções básicas e climas do Brasil. São Paulo: Oficina de Textos, 2007.

Sistemas frontais – Monolito Nimbus: https://www.monolitonimbus.com.br/sistemas-frontais/

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