Olá leitor,

Inicio minha contribuição no portal TudoGeo com essa triste notícia que aconteceu numa região que conheço bastante, o Rio de Janeiro.

Nascido na República Democrática do Congo, em 1997, Moise Mugenyi Kabagambe deixou seu país em 2011 fugindo de guerras e da fome, na condição similar de muitos refugiados no Brasil. Porém, dia 24 de janeiro, interromperam sua vida após ele cobrar no seu local de trabalho uma determinada quantia que deveria receber pelos serviços prestados.

A situação, trágica, aborda da pior maneira aspectos que, na Geografia, professores e alunos abordam de forma constante, mas não suficiente, como podemos perceber. Pautas como racismo, refugiados, imigração e desigualdade socioeconômica estão inseridas nesse triste episódio.

O local do crime, distante 5 km da residência do Presidente , é na Barra da Tijuca, zona Oeste do Rio de Janeiro, conhecida por largas avenidas e planejamento voltado para o trânsito de carros e empreendimentos imobiliários. É informalmente conhecida, entre os cariocas, claro, como o bairro dos “emergentes” (pessoas que por algum motivo mudaram seu patamar financeiro, vias legais ou não). Caso você não conheça, clique aqui.

De escravizados a refugiados

Segundo o Comitê Nacional para os Refugiados (Conare), os congoleses são o segundo maior grupo a ter a solicitação de refugiados acolhida pelo Brasil depois da Síria, com mais de 900 pedidos reconhecidos entre 2007 e 2017, o equivalente a 13% dos pedidos aceitos no período. Guerras, perseguição política e religiosa são os principais motivos que levam uma pessoa a buscar refúgio fora do seu país natal.

Porém, ao chegarem aqui, encontram um país onde a população ainda não entendeu suas raízes. O Brasil é um país forjado na escravidão, tendo até hoje reflexos muito claros desse período. Que até 13 de Maio de 1888 ainda mantinha um sistema escravocrata legalizado, sendo um dos últimos países do mundo à abolir a escravidão, devido á pressão internacional que recebia, principalmente pela Inglaterra, que já se encontrava num processo avançado de sua segunda Revolução Industrial e precisava criar um mercado consumidor para seus produtos.

O brasileiro, infelizmente, ainda não enxerga o africano como parte fundamental da sua cultura e integrante do seu DNA. Até mesmo do ponto de vista geológico, já estivemos continentalmente juntos num passado muito distante, quando América do Sul e África eram unidas numa mesma placa tectônica. Isso explica a quantidade de fósseis similares que encontramos nos litorais dos dois continentes. Se você se interessou nesse assunto, leia isso.

Porém, essa mistura que engloba o racismo muito presente no Brasil, com a vulnerabilidade desses refugiados, ocasionou essa tragédia no Rio de Janeiro. 

Morto a pauladas por fazer seu trabalho

Esse é o retrato da cidade do Rio de Janeiro hoje, com uma população muito empobrecida devido à pandemia da covid-19, que ocasionou o encerramento de milhares de postos de trabalho, levando esses refugiados à trabalharem sem nenhuma garantia jurídica, combinado com a barbárie que acontece nos locais onde o poder público não chega para os pobres, mas sim para os ricos, visto que a Barra da Tijuca é um dos bairros com maior IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) da cidade.

Meus sentimentos à família de Moise Kabagambe e que o Brasil evolua como sociedade a partir dessa barbaridade.

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