Aerossóis do vulcão de Tonga colorem o céu de algumas porções do Brasil

O vulcão submarino Hunga-Tonga-Hunga-Ha’apai, localizado a 65 quilômetros da capital de Tonga, país polinésio localizado no Pacífico Sul, teve uma erupção violenta, acabando por provocar um tsunami na própria ilha de Tonga e também na Samoa Americana, além de enviar uma nuvem de cinzas e vapor de gás para o ar, que influenciou o pôr do sol aqui no Brasil.

Para se ter uma ideia do quão poderosos foram os efeitos desta erupção vulcânica, a Nasa considerou o episódio como cem vezes mais poderoso que a bomba de Hiroshima, uma das duas bombas atômicas lançadas pelos Estados Unidos sobre o Japão durante a Segunda Guerra Mundial.

Aqui no Brasil, no entanto, o que vem chamando a atenção há vários dias, especialmente ao amanhecer e no fim da tarde, é a coloração do céu em algumas porções do território. Isso mesmo, nada de tsunami nesse país de predominância de águas tropicais (ao menos por enquanto), é a cor do céu mais próxima do laranja e do vermelho ou até do rosa que vem inquietando os brasileiros e originando fotografias icônicas.

Mas, afinal, o que o céu observado pelos brasileiros tem a ver com a erupção de um vulcão situado em meio ao Oceano Pacífico? A resposta é tudo e demonstra o efeito sistêmico dos fenômenos atmosféricos da Terra, melhor dizendo, o poder “globalizador” da circulação geral da atmosfera.

O espetáculo colorido do céu: como a Geografia explica?

Pouco mais de duas semanas após a intensa erupção, os efeitos da nuvem expelida para a atmosfera continuam sendo percebidos no Brasil. Primeiro, foi notado uma coloração diferente no céu da cidade de São Paulo, bem como em outras localidades da região Sudeste, caso de munícipios do Rio de Janeiro e os municípios mineiros de Formiga e Governador Valadares.

Com o passar dos dias, o céu em tons muito avermelhado, rosa e laranja tem sido visualizado nos três estados do Sul do país. O espetáculo do céu também pôde ser observado na região do Pantanal sul-matogrossense e em estados do Nordeste, a exemplo do céu da Paraíba.

Todas essas ocorrências referem-se à erupção maciça do vulcão de Tonga. Isso porque, após entrar em atividade eruptiva, há liberação de material particulado e aerossóis na alta atmosfera. A cinza fina ejetada pela erupção vulcânica na estratosfera pode ser transportada pelos ventos para todo o mundo.

O dióxido de enxofre expelido reage na atmosfera para formar aerossóis de sulfato. Tanto as cinzas quanto os aerossóis podem espalhar os raios solares, dando ao nascer e ao pôr do sol as cores mais vibrantes que se têm observado.

Em situação normal, as partículas do ar espalham a luz solar recebida e é por isso que o céu é azul durante o dia. Quando o Sol se põe ou nasce, os raios atingem as camadas superiores da atmosfera e os comprimentos de onda são divididos e refletidos em vez de serem absorvidos.

Assim, o pôr e o nascer do sol parecem avermelhados, pois os raios do sol têm mais atmosfera a percorrer e somente as ondas mais longas do espectro vermelho se destacam. Segundo a MetSul, os aerossóis de sulfato emanados pelo Hunga Tonga-Hunga Haʻapai, em particular, podem intensificar tal efeito, adicionando mais obstáculos para a passagem da luz o que dá cores ainda mais vibrantes ao céu.

Erupção vulcânica, aerossóis e efeitos na atmosfera

Entende-se por aerossóis quaisquer partículas minúsculas em suspensão no ar. Dos três tipos de aerossóis que influenciam o clima da Terra, o aerossol vulcânico é um deles. Os outros dois são os desérticos e os decorrentes da ação humana.

Erupções vulcânicas como a ocorrida na metade do mês de janeiro no país polinésio são tão fortes que podem lançar partículas de aerossol em camadas altas da atmosfera, como na estratosfera a uma altura compreendida entre 15km e 50km. A composição dominante neste tipo de aerossol é o dióxido de enxofre (SO2) que pode ser convertido em gotas de ácido sulfúrico (H2SO4). Quando em contato com a água compreendida na atmosfera, essa concentração pode durar até meses após a erupção.

Como já dito, são os ventos da estratosfera os responsáveis pelo transporte desses aerossóis por praticamente todo o globo terrestre.

Os aerossóis vulcânicos acabam por refletirem a luz solar, o que reduz a energia que chega na superfície terrestre. Em Climatologia, isso é explicado pelo fato desses aerossóis (ou poeiras em geral) barrarem a entrada dos comprimentos de onda menores (cores do espectro do azul e violeta) e deixam passar as cores dos espectros vermelhos e alaranjados.

Em função disso, entram menos ondas de radiação curta e mais de onda longa. Como é a onda curta quem atinge o solo e converte-se em onda longa, gerando o aquecimento do ar, após o registro de grandes erupções que libera uma excessiva quantidade desses aerossóis, registram-se também diminuições de temperatura local ou até global, a depender do quanto diminui a entrada de luz solar.

Tal constatação deve acender o alerta à população humana, visto que, em decorrência das intervenções antrópicas sobre o meio natural, há um considerável aumento dos aerossóis ligados por exemplo à poluição, o que muito brevemente poderá conduzir a Humanidade a enfrentar condições climáticas severas e irreversíveis. Daí a importância de se entender o planeta Terra como um organismo vivo, isto é, um complexo sistema onde o que ocorre num dado ponto do planeta, afeta direta ou indiretamente outro – não importando a distância em que estejam.

Galeria de fotos dos efeitos dos aerossóis liberados pelo vulcão de Tonga