É de conhecimento geral a importância da água para as atividades cotidianas: hidratação, higienização, irrigação, manutenção e limpeza doméstica, etc. No filme “O Menino que Descobriu o Vento”, a dependência desse recurso hídrico é ainda mais explícita por conta do clima seco de um pequeno vilarejo de Kasungu, situado no país de Maláui (África).

Dirigido por Chiwetel Ejiofor (pai de William neste filme e famoso por protagonizar e dirigir o longa-metragem “12 Anos de Escravidão”), em “O menino que Descobriu o Vento” notamos várias mensagens que vão muito além da vitalidade da água para reprodução da vida humana.

Isso porque, a história do jovem William Kamkwamba (Maxwell Simba) narra situações verídicas sobre uma época de tensões políticas, econômicas e sociais que causaram grandes transtornos para população vulnerável daquela comunidade, cidade e país.

Outro ponto de destaque é a persistência de William em sua busca por conhecimento científico para combater a seca utilizando a força do vento. Assim, mesmo sem condições financeiras para pagar a mensalidade do único colégio do vilarejo, o protagonista encontrou outras formas de estudar, acreditando no poder transformador da educação tendo em vista o enfrentamento de uma crise ambiental e social. Esses são os aspectos discutidos a seguir.

William Kamkwamba (Maxwell Simba).

Crise hídrica em Kasungu

O drama se passa no ano de 2002, em Kasungu (Maláui), tempo e espaço estes marcados por questões ambientais muito adversas. Isto é: o cenário encontrado correspondia por uma grande seca, na qual foi causada pela sazolanidade climática, ações humanas destrutivas e exploração dos recursos naturais.

Até mesmo quando (raramente) chovia, as condições impostas inviabilizavam atividades agrícolas, tais como o plantio, pois a chuva era de tal intensidade que destruía as plantações.

Levando em consideração esses problemas, vale lembrar que incluindo a família de William, várias outras pessoas do pequeno vilarejo em Kasungu viviam estritamente da agricultura. Foi assim que o protagonista sentiu na pele os desafios do plantio em um ambiente adverso: ora por alagamentos, mas, sobretudo, pela escassez, percebendo as consequências da ausência do mais importante recurso da humanidade: á água.

Por se tratar de uma atividade simples, desenvolvida por métodos tradicionais, condições rudimentares de técnica e tecnologia, não só a família de William, mas todos os outros pequenos agricultores das redondezas sucumbiram à falta d’água. Tudo isso reverberou em perdas de colheitas ou vendas de terrenos e sacas de grãos por um preço muito abaixo do necessário para a subsistência.

Essa situação resultou em outros enfrentamentos, de que são exemplos a fome, miséria, tensões políticas e protestos sociais dos agricultores em situação de extrema vulnerabilidade.

O contexto sociopolítico retratado no filme

Além do flagelo da crise hídrica, as condições de vida do povo de Kasungu apresentam-se extremamente precárias, sendo resultado de negligência política. Portanto, não bastasse o continente africano ser uma das porções do planeta terra mais exploradas por estrangeiros, alguns interesses políticos internos também levam sofrimento para os seus povos.

No filme “O Menino que Descobriu o Vento” a política não se apresenta como ponto central; todavia, é possível observar algumas questões que nos fazem refletir sobre a situação de vida de William e daquele povo.

Como se retrata na obra, a população de Kasungu encontra-se completamente desamparada: não há políticas públicas abrangentes de ações contra a fome. Mesmo assim, após vencer as eleições, o então presidente se desloca até o povoado desta cidade para, aparentemente, agradecer os votos ganhos na última eleição. Entretanto, a sua verdadeira a intenção era acobertar a crise de alimentos.

A situação se agrava a partir do posicionamento do líder dos agricultores que denuncia a real situação de fome e miséria daquele povo. Então, em movimento autoritário e extremista, o presidente ordena uma represália contra esse opositor, o espancado covardemente.

Chief Wembe, líder dos agricultores.

O menino que domou o vento…

Não pretende-se aqui levantar uma bandeira para meritocracia. Primeiramente, vale lembrar, a trajetória de William e a forma como a qual ele superou as dificuldades da vida, só foram necessárias por conta das desigualdades estruturais. Portanto, a segregação educacional, a fome e a miséria apresentadas no filme, são produtos de uma sociedade excludente.

William Kamkwamba (Maxwell Simba) e a sua turbina eólica.

Afrontando imposições de todas as ordens, William viu na ciência a possibilidade de desenvolver um aparelho mecânico no qual poderia resolver o problema da falta d’água em seu vilarejo. Portanto, antes de qualquer coisa, o protagonista pensou em uma aplicação social dos seus esforços.

Estudando (de maneira clandestina) na biblioteca da escola em que foi expulso, William conseguiu aplicar o conhecimento teórico de física (Using Energy) na prática, construindo uma turbina eólica (cata-vento/moinho) a partir de ferramentas improvisadas – que foram “garimpadas” de um ferro-velho, além de partes de uma bicicleta.

Ainda que (só aparentemente) muito simples a sua criação, ela proporcionou energia elétrica àquela comunidade e pôde aliviar o sofrimento de vários agricultores, pois agora eles tinham disponibilidade de água em períodos de seca para irrigar suas plantações o ano todo.

William certamente mudou a vida de milhares de pessoas, mesmo porque a sua invenção se espalhou por vários vilarejos, de inúmeras cidades, dos mais variados países africanos…

Hoje, além de inventor, William é engenheiro ambiental, empreendedor social, palestrante, escritor, coordenador de projetos sem fins lucrativos, dentre outras funções.

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