A nova guerra iniciada em território ucraniano pela Rússia, com o objetivo de evitar a entrada da Ucrânia na Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) liderada pelos Estados Unidos, vem se tornando alvo de preocupações no que pode ser uma grande nova crise de refugiados na Europa.

A estimativa do número de refugiados ucranianos na Europa é a de ultrapassar a quantidade de refugiados que deixaram a Síria, até então, a maior crise de deslocamento forçado no mundo.

A nova crise de refugiados

O novo conflito na Europa provocou a saída de milhares de pessoas das suas cidades para se protegerem em outros países, principalmente dos membros da Otan como a Polônia, que está assegurada de uma possível invasão russa pela aliança militar formada por 30 países.

Até o momento, segundo a Organização das Nações Unidas, mais de 2,5 milhões de pessoas já atravessaram as fronteiras, tendo como principal destino além da Polônia, Romênia, Hungria, Eslováquia e Moldávia.

Ainda há o deslocamento de milhares de pessoas dentro do território ucraniano e segundo a agência da ONU para refugiados (ACNUR), é esperado a saída de quase 7 milhões de pessoas.

Rússia e Ucrânia concordaram em criar corredores humanitários para o deslocamento dos ucranianos, que consistem em áreas desmilitarizadas onde não podem ocorrer bombardeios ou qualquer outro tipo de ataque.

Xenofobia seletiva

Os líderes de extrema-direita da Polônia e da Hungria, Andrzej Duda e Viktor Orbán, são conhecidos pela postura anti-União Europeia e também pela xenofobia.

Orban chegou a iniciar a construção de um muro separando suas fronteiras com a Sérvia e com a Croácia, rejeitando também atender as cotas mínimas de refugiados impostas pela União Europeia em 2016, na época da crise de refugiados da Síria.

Em 2021, Duda fechou as fronteiras da Polônia com Belarus e armou forças de segurança para impedir a passagem de estrangeiros, principalmente aqueles vindos do Oriente Médio que desejam entrar na União Europeia.

Recentemente, o discurso desses dois líderes passou por uma grande reviravolta. Com a crise de refugiados na Ucrânia, ambos passaram a aceitar a entrada de ucranianos, que diferente de refugiados do africanos ou do Oriente Médio, são vistos como parte de seu povo já que são em sua maioria brancos e cristãos, mas que também, lhes dão visibilidade política.

Entretanto, nem todos os cidadãos que vivem na Ucrânia conseguiram cruzar a fronteira com a Polônia facilmente, principalmente africanos de diferentes nacionalidades, que em alguns casos, foram segregados nas filas de espera e não conseguiram embarcar em trens que deixariam a Ucrânia.

Alguns destes refugiados que conseguiram cruzar a fronteira foram recebidas com ataques por ultranacionalistas poloneses, que se amparam de maneira legítima no discurso de Andrzej Duda.

Se a xenofobia consiste na aversão ou ódio contra estrangeiros, os exemplos que estamos presenciando na Europa nos mostram que ela não ocorre simplesmente com qualquer estrangeiro, e sim, de acordo com sua cor, religião e origem. O que estamos presenciando neste fato é uma xenofobia seletiva.

Crise de refugiados como palanque político

A mudança radical na postura de Viktor Orbán, que ao contrário de Duda era aliado de Vladimir Putin, se dá pela tentativa de se reeleger para mais 8 anos de mandato, em eleições que acontecerão dia 3 de abril. Seu adversário, Péter Márki-Zay, criou uma grande aliança para derrubar Orbán, já há 12 anos no poder.

Outro país que irá passar por eleições em abril é a França, onde Emmanuel Macron tenta sua reeleição e usa a guerra na Ucrânia como um impulso a sua campanha, se colocando como mediador no diálogo com Putin e também abrindo suas fronteiras para refugiados.

Na cidade de Calais na França, porta de entrada para o Reino Unido, poucos metros separam refugiados ucranianos, que contam com abrigo e doações de moradores locais, dos refugiados sudaneses, que vivem em situação precária e esperam uma oportunidade para entrar no Reino Unido ilegalmente.

Nos Estados Unidos, ocorrerá em novembro a midterm, eleições de meio de mandato que servem como um termômetro para a popularidade do presidente, que no caso de Joe Biden, se encontra baixa.

A guerra na Ucrânia é vista também como uma tentativa de resgatar sua popularidade e conquistar mais assentos no congresso e no senado, o que ajudará na sua governabilidade até o fim do mandato. Considerado um país de forte restrição a imigração, os Estados Unidos também estão abrindo suas portas para os ucranianos.

No fim, a lição que tiramos disso tudo é que a visão colonialista europeia e imperialista norte-americana ainda prevalece e está escancarada nesta nova crise de refugiados. Consideram dignos de receber ajuda os brancos europeus e cristãos, rejeitando pretos, pardos, muçulmanos e todos aqueles que o Ocidente nunca fez questão de enxergar como humanos.

Neste jogo de poder, os líderes das potências ocidentais consideram de extrema importância serem solidárias apenas com as vítimas de seu inimigo, como nunca foram com quaisquer outras vítimas de inúmeras guerras no mundo, inclusive, as causadas por eles mesmos.

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