O ano de 2022 começou agitado, com a possibilidade de uma guerra envolvendo uma invasão da Rússia na sua vizinha Ucrânia. Mesmo com a negativa do presidente russo Vladimir Putin, não faltaram alertas por parte da imprensa internacional e de líderes ocidentais como Joe Biden (EUA).

Rússia e Ucrânia já tiveram muitas relações, principalmente no período em que integravam a antiga União Soviética, extinta em 1991. Recentemente, em 2014, a disputa se acirrou depois que a Rússia anexou a península ucraniana da Crimeia ao seu território.

Qual seria o interesse da Rússia na Ucrânia? Por que Rússia e Ucrânia estão prestes a entrar em conflito? Ou melhor, será que Rússia e Ucrânia irão se enfrentar em uma batalha? Entenda tudo sobre o conflito entre Rússia e Ucrânia.

Qual o passado da Rússia com a Ucrânia?

A Ucrânia já esteve sobre grande influência da Rússia quando fez parte da União Soviética, mas antes disso, fazia parte também do Império Russo. Seja sob o domínio dos czares ou dos comunistas soviéticos, os ucranianos não conquistaram autonomia nem tiveram sua nacionalidade preservada.

Muito pelo contrário! Houveram esforços para impedir o uso da língua ucraniana no Império Russo e um grande movimento de Stalin para “russificação” da Ucrânia, incentivando a migração de russos para este território. Como a nacionalidade russa é determinada pelo jus sanguinis (direito de sangue), filhos de pais russos na Ucrânia terão nacionalidade russa, porém serão cidadãos ucranianos. Isso explica a grande quantidade de russos no leste ucraniano.

Mapa representando as repúblicas que formavam a antiga União Soviética.

Grandes cicatrizes foram deixadas na Ucrânia durante o período soviético e uma delas ficou conhecida como Holodomor. Este episódio ocorreu entre 1932 e 1933, período em que milhões de pessoas morreram de fome na Ucrânia, vítimas da política de Joseph Stalin de coletivização forçada da agricultura durante um terrível inverno. Alguns países consideram o Holodomor como um genocídio.

Outra grande tragédia do período soviético foi a explosão da Usina Nuclear de Chernobyl, em Pripyat no norte da Ucrânia, deixando milhares de vítimas que morreram durante e depois do acidente, em decorrência da radioatividade. Atualmente, há uma zona de exclusão na região do acidente do tamanho de Luxemburgo (2600 km²).

Qual o interesse da Rússia na Ucrânia?

A Ucrânia integra as planícies do norte da Europa, que já foram rota para as sucessivas invasões a Rússia, como a de Napoleão Bonaparte em 1812 e a de Adolf Hitler em 1941. Manter a Ucrânia sob o domínio e influência de Moscou, é uma garantia de proteção contra possíveis invasões a Rússia.

Atualmente, a economia russa se apoia na produção de petróleo e principalmente de gás natural. Durante o inverno europeu, é o gás russo que aquece as casas da maioria dos países, principalmente de potências como a Alemanha, que consomem 50% do gás natural vindos da Rússia.

Aproveitando as condições favoráveis das planícies, a Rússia para transportar seu gás natural até a Europa Ocidental, priorizava a passagem de seus gasodutos pela Ucrânia, que além de ser uma grande consumidora do gás russo, recebia alguns bilhões de euros por tarifas de trânsito.

Entre 2005 e 2010, disputas sobre o preço do gás natural colocaram Rússia e Ucrânia em desentendimento, provocando cortes no fornecimento que chegaram a prejudicar 18 países em pleno inverno. Vendo uma oportunidade, os Estados Unidos propuseram a exportação de gás natural liquefeito (GNL) através do oceano Atlântico para abastecer a Europa.

Temendo perder a sua principal arma, o fornecimento de gás natural para a Europa Ocidental, a Rússia precisava continuar a oferecer um gás natural mais barato que o GNL, sem cortes e de maneira direta aos seus principais compradores. Para isso, precisaria contornar a Ucrânia com seus gasodutos. E foi isso o que fez com o Nord Stream 1 e 2, gasodutos que ligam diretamente a Rússia e Alemanha e que passam pelo mar Báltico, diminuindo a dependência da passagem pela Ucrânia.

Mas além da Ucrânia ser um território estratégico na economia, é também estratégico do ponto de vista militar. Quando houve a desintegração da União Soviética, a Rússia manteve através de um contrato de arrendamento o seu tão cobiçado porto de águas mornas no Mar Negro, na península ucraniana da Crimeia.

Situado em uma posição estrategicamente mais avançada do que sua própria saída para o mar, o porto de Sebastopol é de grande importância para Rússia e justifica para Putin a anexação da Crimeia.

O Pacto de Varsóvia, a OTAN e a União Europeia

Durante a velha ordem mundial bipolar da Guerra Fria, a tensão envolvendo Estados Unidos e União Soviética deu origem a duas alianças militares, que tinham como objetivo assegurar a influência destas potências sobre seus respectivos blocos através da prestação de assistência militar mútua entre os membros de cada um deles, ou seja, se um dos países sofresse qualquer represália do bloco adversário, todos deveriam agir.

O Pacto de Varsóvia, a aliança militar liderada pela União Soviética, também agiu para conter reformas que colocassem em risco a influência socialista dentro de seu próprio bloco, como aconteceu na antiga Tchecoeslováquia, onde o exército reprimiu um movimento popular no que ficou conhecido como a Primavera de Praga em 1968.

A Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), liderada pelos Estados Unidos, garantia a segurança do bloco capitalista. Com o fim da Guerra Fria e o início de uma nova ordem mundial, apenas a OTAN permaneceu, atuando nos dias de hoje em prol da influência ocidental no mundo.

Alguns dos países que enfrentaram a tirania soviética durante a Guerra Fria, se voltaram para o Ocidente, aderindo a Otan e/ou União Europeia. São eles: Letônia, Lituânia, Estônia, Polônia, República Tcheca, Bulgária, Hungria, Eslováquia, Albânia e Romênia. Países como Ucrânia, Moldávia e Geórgia, também desejam se voltar para o Ocidente, mas enfrentam a resistência do apoio pró-Rússia em seus territórios.

Apesar disso, o ex-presidente da Ucrânia Víktor Yanukóvytch chegou ao poder com a promessa de se aproximar do Ocidente, ingressando na União Europeia. Para a Rússia, essa aproximação também significaria um possível ingresso na Otan. No entanto, Putin cobriu a oferta do Ocidente e fez com que Yanukóvytch fechasse um acordo com Moscou, resultando na derrubada do presidente ucraniano.

A anexação da Crimeia pela Rússia em 2014

A Ucrânia, dividida etnicamente, viu sua porção oriental de maioria russa sair em apoio ao presidente, enquanto sua porção ocidental também saiu as ruas na tentativa de afastar qualquer influência de Moscou, incluindo milícias fascistas que conseguiram assumir o poder e colocaram a população ucraniana de expressão russa em risco. Putin se sentindo ameaçado, agiu rápido e anexou a península da Crimeia.

Após a derrubada de Yanukóvytch, o novo governo provisório declarou abolir o russo como segunda língua em determinadas regiões. Essa declaração era o argumento que Putin precisava para alegar a proteção aos russos étnicos como obriga a lei russa. Sendo a Crimeia uma região com 60% de russos, Putin mobilizou suas tropas de Sebastopol para proteger seu povo, anexando a península em 2014.

Mapa da divisão étnica da Ucrânia.

Com sanções brandas impostas pela União Europeia que depende de aproximadamente 25% do gás natural russo, Putin não enfrentou grandes dificuldades na anexação, inaugurando entre 2018 e 2019 um trecho rodoviário e ferroviário ligando a Rússia a península da Crimeia.

Outras províncias do leste ucraniano continuaram lutando por sua independência, como é o caso das autoproclamadas Repúblicas de Donetsk e Lugansk, em um conflito contra o exército ucraniano que já deixou cerca de 15 mil mortos.

Quais os motivos da tensão entre Rússia e Ucrânia em 2022?

Desde o final de 2021 até os dias atuais o presidente russo, Vladimir Putin posicionou nada menos que 100 mil soldados e armamentos pesados ao longo de sua fronteira com a Ucrânia, causando o temor de que a Rússia esteja planejando um ataque ao seu vizinho. Foi aí que as movimentações diplomáticas tiveram início.

A Rússia nega as acusações e diz que está enviando tropas e equipamentos apenas para realizar manobras conjuntas com Belarus (outro país vizinho).

A principal “moeda de troca” usada pela Rússia para diminuir a escalada de tensão na região é uma garantia formal de que a Ucrânia e a Geórgia nunca entrem para a Otan. Além disso, os russos querem que a Otan se comprometa em retirar misseis da Polônia e da Romênia que representam segundo Moscou ameaças ao povo russo.

Até o momento as negociações diplomáticas foram frustradas pois do outro lado a Otan e os Estados Unidos veem o comportamento da Rússia como uma ameaça explicita. O presidente americano Joe Biden já afirmou acreditar que a Rússia irá invadir a Ucrânia e prometeu sanções econômicas nunca antes vistas por Putin, caso isso realmente aconteça.

O que o mundo está presenciando é um jogo de perspectivas geopolíticas. De um lado a Rússia, vendo seu poder de influência diminuir em relação a países vizinhos e buscando se resguardar de uma possível investida ocidental em seu território, tendo na Ucrânia uma espécie de “último escudo”.

A outra perspectiva é de uma Otan expandindo cada vez mais suas áreas de influências e consequentemente ampliando as bases de poder norte-americano pelo mundo. Resta saber até que ponto ambas as partes continuarão apenas demonstrando forças e declarações antes de darem seguimento aos seus planos, independente das consequências que virão.

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